PSICANÁLISE | Terceira Idade - Saúde Mental

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Envelhecimento saudável:

expectativa e qualidade de vida

 

 

Temos vivido mais. A expectativa de vida aumenta no Brasil e ao redor do mundo. Mas de que expectativa se trata?

 

Para a psicologia, começamos a envelhecer ao nascer. Envelhecer tem pouco a ver com a idade biológica. Mas a clínica psicanalítica com idosos tem especificidades e contribui muito para a questão.

 

No campo médico, a fragilidade é definida como um estado de risco à saúde devido ao esgotamento físico/ emocional em situações de estresse. Contudo, estudos demonstram que isso depende menos do fato de se possuir uma patologia ou doença, do que dos sentimentos de ameaça e vulnerabilidade. A cada nova situação buscamos meios de nos sentirmos inteiros mais uma vez, o que a (re)torna estressante. Saudoso, mas não necessariamente saudável.

 

A qualidade de uma vida envolve lidar com mudanças previstas (nas funções biológicas e no esquema corporal, por exemplo), mudanças imprevistas (as variáveis em cada situação e os modos de enfrentamento), e uma dose de inesperado (o acaso contido no susto, no deslumbramento, na surpresa).

 

Com o passar dos anos, antigas condutas dão lugar a novos papéis sociais, no núcleo familiar (entre gerações e funções), no meio profissional (chegada da aposentadoria, início de uma nova ocupação). Tempo que se estende e que se esvai... Às vezes, sentido como excesso, e por outras, como escasso, falta de tempo para mais.

 

Legados, conquistas e momentos gratificantes por certo, mas que também nos colocam questões nada fáceis como a finitude, perdas, sentimentos de dependência, abandono e solidão. Nesse balanço de uma vida que vale a pena ser vivida, nem sempre a conta fecha. E como solução, torna-se cada vez mais comum o discurso imperativo de que devemos sempre inovar, reinventar-nos.

 

Porém, nesse reinventar-se, desfazemo-nos do que ficou para trás como “roupas que não cabem mais” como diz a metáfora? Ou evocaria mais a atual campanha de conscientização sobre o lixo mundial: “Antes de jogar fora, lembre-se: não há fora”?

 

O que fazemos com isso é responsabilidade - resposta de cada um - a partir do momento em que decidimos nos dar conta, “nos contar” nessa trajetória que passa a ser a nossa.

 

A psicanálise oferece um lugar possível de escuta e elaboração dessa narrativa, com efeitos e consequências, entre repetição e criação. Para rememorar o passado, reconstruir o presente e inventar o futuro, uma análise visa antes:  reconstruir um passado, inventar um presente, rememorar um futuro.

 

"O ponto de gravidade do sujeito é a história,

essa síntese presente do passado.

É o que supõe a análise na sua origem

e o que ela trouxe de novo"

(LACAN, 1953-54).

 

 

* Por Luciana Kie, psicóloga e psicanalista - Jardim Paulista - São Paulo / SP.

E-mail: contato@lucianakie.com.br